Encerrei o meu último post sobre a cor preta falando sobre a dualidade da cor ora representando poder, ora representando riqueza. E irei iniciar esta conversa navegando ainda neste tema.
Na Idade Média existiam dois tipos de pigmentos para tingir tecidos:as tinturas bonitas – coloridas e luminosas, caras, usadas para colorir tecidos finos e caros, e a tintura preta.
A tintura preta era usada para colorir tecidos mais simples e acessíveis, tanto que era chamada de “preto dos pobres”. Para se tingir de preto 1kg de lã, eram necessários 4kg de casca de amieiro, que eram esmagadas e colocadas de molho por alguns dias. Porém, a cor resultante desse procedimento era um preto acinzentado, como mostra o quadro The Family of the Peasants, produzida em 1640 pelo pintor francês Antoine Le Nain. Para se obter o preto intenso, o procedimento utilizava as agalhas – protuberâncias formadas na vegetação a partir da ação das vespas-de-galha, insetos que picam as folhas para depositarem seus ovos. O procedimento fazia com que os tecidos pretos verdadeiros fossem tão caros quanto os coloridos, e acessíveis apenas aos nobres.
Na pintura, 2 modalidades de obtenção do preto intenso já eram conhecidas há 3 mil anos – o preto de lamparina, obtido a partir da fuligem do carvão e o preto de fumo, que é usado até hoje para a fabricação de lápis, tintas de aquarela, à óleo e de impressão.
Poucos sabem, mas a conquista de Constantinopla pelos turcos, em 1453 também influenciou o mercado de tecidos: a cidade era o centro das artes da tinturaria e muitos de seus tintureiros fugiram durante a invasão dos turcos. Assim, a conquista de Constantinopla contribuiu para a evolução da arte da tinturaria de ciência secreta para ofício, o que ocasionou a diminuição da diferença de preço entre os tecidos luminosos e coloridos e os tecidos pretos.
Mais ou menos nesta mesma época, o caminho marítimo para as Índias foi descoberto, e com isso o corante índigo chegou à Europa, o que permitiu o desenvolvimento de novos processos de obtenção da tintura preta. O mesmo ocorreu com a descoberta do Campeche, o corante escuro que vinha das Américas.
Com todas essas descobertas, o tecido preto intenso passou a ser muito valorizado, e por sua vez, passou a ser a cor dominante da vestimenta da burguesia, tornando-se moda no mundo todo, reforçando a associação da cor preta à nobreza, ao sagrado e ao misterioso.
Hoje em dia, o pretinho básico é consenso tanto para homens,quanto para mulheres. Sinônimo de elegância, o preto é a cor da individualidade e é a cor que mais vemos nas roupas dos mais jovens. Isso porque geralmente os jovens não podem definir sua posição social por sua profissão ou por suas posses, e utilizam-se das roupas para isto. É uma forma inconsciente de se individualizar no meio da multidão – o que explica o fato de que quanto mais jovem, maior a preferência pelo preto. O motivo: os jovens relacionam a cor aos carros caros e roupas da moda, já os mais velhos a relacionam ao fim – da vida, do casamento, do trabalho.
Trazendo tudo isso aos nossos dias e a realidade de empreendedores, é fundamental considerar que a relação entre marcas e cores depende da adequação percebida da cor usada em determina da marca – ou seja, se o consumidor enxerga a personalidade da marca por meio da cor. E isto, está sempre relacionado a dois fatores: as experiências de vida do interlocutor e o contexto no qual a cor está inserida. Por isso, uma pesquisa de mercado a respeito dos gostos e histórias de vida de seu público-alvo e uma boa assessoria de branding são fundamentais para o sucesso da sua marca.
Na identidade visual de uma marca, o preto traz todas as características relacionadas à elegância, autoridade,assertividade, formalidade e tradição. A cor casa perfeitamente com produtos que pretendem transmitir esses conceitos aos seus consumidores, perceba estas características nos exemplo abaixo.
*texto originalmente publicado na minha coluna Nau de Cores, do Blog4Hands.
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