A cor da inteligência e da jovialidade deriva de um pigmento que foi um dos mais caros de todos os tempos: o açafrão, que, ao lado do índigo era a planta mais importante para o tingimento de tecidos. Dizia-se que a cor deste tingimento durava para sempre.
Para se ter uma ideia do quão trabalhoso o processo da extração do pigmento amarelo do açafrão, eram necessárias de 100 a 200 MIL flores de açafrão (das quais apenas os estames eram utilizados no processo) para se fazer 1 QUILO de corante, que tem a capacidade de fingir 10 quilos de lã, o que fazia com que o corante amarelo fosse vendido a preço de ouro.
Apesar do alto preço, este corante apresentava um benefício que poucos corantes garantiam: a durabilidade do tingimento.
Talvez essa característica de “eternidade” tenha influenciado uma tradição originada na Idade Média, que obrigava as prostitutas, as mães solteiras, os judeus e as outras classes consideradas impuras a usarem adornos amarelos (como chapéus e argolas) ou manchas amarelas nas roupas – eram as “manchas da desonra”.
A explicação mais aceita é a de que quem usasse a cor não teria como esconde-la, até mesmo no escuro ela é vista.
Embora esse caráter discriminatório tenha sido imputado há séculos, ainda hoje a cor amarela não é usada na Igreja Católica – as insignias e vestimentas levam a cor do ouro. Na vida dos leigos os tecidos amarelos também não caíram no gosto das pessoas, pois os tecidos naturais – os únicos acessíveis à grande maioria da população – ficavam com a aparência de sujos se tingidos com açafrão. Já a fina seda ficava luminosa, vibrante e cara, destinadas apenas à pessoas com maior poder aquisitivo.
O açafrão é tão significativo em algumas culturas se que seu nome “zafaran” é para os Árabes sinônimo de cor. Foi citado como planta curativa por Salomão, Homero e Hipócrates e hoje suas raízes são usadas como condimento e corante a alimentício, em licores, queijos e cosméticos.
Nas flores, o amarelo transmite vibrações alegria e prosperidade e estimula a auto-confiança. Quem não sente vontade de sorrir e de vibrar coisas boas ao ver um girassol?
Essa relação do amarelo com a prosperidade traduz a cultura oriental.
O Norte da China fica constantemente coberto por um fino pó amarelo vindo do deserto de Gobi, que garanta a fertilidade dos campos, por isso, inversamente ao que vivenciamos no Ocidente, no Oriente a cor é sagrada, é a cor do Estado e da Religião, citada em elementos importantes da Cultura chinesa, como nas denominações do Rio Amarelo e de Huang-ti, o Imperador Amarelo.
*texto originalmente publicado na minha coluna Nau de Cores, do Blog4Hands.
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